ISSN: 2992-7781
REVISTA DE LITERATURA DE LA UNIVERSIDAD AUTÓNOMA DEL ESTADO DE MÉXICO

Siete poemas[*]

Renan Bolognin

 

 

6h

 

Despertar es de las tareas más complicadas

La cama es un hueco negro tragador de deseos,

De antojos, de sueños

 

Remo en pensamientos un paseo caudaloso.

 

El origen es tapado

Por una imagen embarrada que se forma alrededor

Del bote

 

El brillo de las luces se desvanece

 

Todo se apaga nuevamente

 

Intento levantarme, insistentemente, y lo consigo

 

La oscuridad, sin embargo, me acecha por las aceras.

 

 

6h

 

Acordar é das tarefas mais complicadas

A cama é um buraco negro tragador de desejos.

De sonhos, de anseios

 

Remo em pensamentos um passeio caudaloso.

 

A origem é emperrada

Por uma imagem enlameada formando-se ao redor

Do bote

 

O brilho das luzes se desvanece

 

Tudo apagado novamente

 

Tento levantar, insistentemente, e consigo

 

A escuridão, no entanto, me persegue pela calçada.

 

 

 

Cefalea

 

Pienso mierda en demasía

Despertar

 

 

Tan pequeña es la vida

cuán grande esa ventana

 

Rezar antes de dormir

Para no despertar

Y que te hayan obsequiado la existencia

 

Construir una torre

Un bloque a la vez

Llegar allá a lo alto y reclamarle a Dios

 

Si es que existe

 

A los pedazos,

Descuartizado en 16 partes

Por sus fieles

 

 

Cefaleia

 

Penso merda pra caralho  

Acordar

 

...

 

Tão pequena vida,

Quão grande essa janela

 

Rezar antes de dormir

Para não acordar e ser presenteado

Com a existência

 

Construir uma torre

Um bloco por vez

Chegar lá no alto e reclamar com Deus

 

Se ele existir

 

Aos pedaços,

Esquartejado em 16 partes

Por seus fiéis

 

 

 

Exigencia

 

Oí un sonido

Parecido a un pájaro

Sería bueno huir

 

Volar

 

Le tengo miedo a las alturas,

Los sueños son tan inconsecuentes

 

La piedra adherida al suelo

En lo alto es Sísifo

 

Y yo no me permito rodar

Tengo musgos

 

Cada día el ojo ve algo invisible,

El oído oye algo inaudito

 

Siento la fragancia del amor,

Toco lo impalpable

Y hablo con fantasmas.

 

Pero nada de esto me es suficiente.

 

 

Exigência

 

Ouvi um som

Como de pássaro

Bom seria fugir

 

Voar

 

Tenho medo de altura,

Os sonhos são tão inconsequentes

 

Pedra fica no chão No alto é de Sísifo

 

E eu não me permito rolar

Tenho musgos

 

Cada dia o olho vê o invisível,

O ouvido ouve o inaudito,

Sinto a fragrância do amor

Toco o impalpável

E falo com fantasmas,

 

Mas isso tudo não me é suficiente.

 

 

 

Metro

 

Visto por dentro

La armadura de san Jorge

Y empuño su espada

 

Abatí millares de dragones

Uno en cada día de mi vida

 

Duelen mis rodillas

Y flaquean mis brazos

 

Mis enemigos me alcanzan

Sus pies son veloces

Y sus armas más letales

Que de otrora

 

El bamboleo del metro,

El cambio de estación en estación y

El insistente ir y venir de los pasajeros

Atormentan cada día más

Los dolores cargados en mi corazón

 

 

Metrô

 

Visto por dentro

A armadura de Jorge

E empunho sua espada

 

Abati milhares de dragões

Um em cada dia de minha vida

 

Meus joelhos doem

E os braços fraquejam

 

Meus inimigos me alcançam

Seus pés são velozes

E suas armas mais letais

Do que outrora

 

O sacolejo do metrô,

A mudança de estação para estação e

As insistentes trocas de passageiros

Atormentam ainda mais as dores carregadas no meu coração

 

 

 

Marioneta

 

Veo los hilos que salen de los vehículos

Como grandes lazos que se sustentan al cielo

También sopla el viento

Implacablemente en este caer de la tarde

Veo también a mis hermanos

Famélicos;

Estiran la mano

A cambio de monedas

O una porción de comida

Siento en las calles el delirante aullido de la muerte

 

Antes morir que sobrevivir

La desigualdad enmascarada

Por los restaurantes de alta clase

Mendigos duermen en las aceras

Burgueses recibidos de brazos abiertos

Adinerados,

Yo, en el ojo del huracán,

El viento enfría y

El cielo lagrimea

Estamos en los hombros de una marioneta de Zeus

 

 

Marionete

 

Vejo fios de luz saírem de veículos

Como grandes laços que os sustentassem no céu

Também venta

Implacavelmente nesse fim de tarde

Vejo também meus irmãos

Esfomeados,

Esticam as mãos

Em troca de moedas

Ou uma porção de comida

Sinto nas ruas o uivo delirante da morte

 

Antes morrer do que sobreviver

A desigualdade mascarada pelos restaurantes de alta-classe

Mendigos dormem em suas calçadas

Grã-finos recebidos de braços abertos

Endinheirados,

Eu no olho do furacão,

O vento esfria e

O céu começa a chorar

Estamos nos ombros de uma marionete de Zeus

 

 

 

Sutra

 

El rey

Persigue a mi caballo en el tablero

Intento esconderme, pero él me acorrala

Entre dos peones

Mi cuerpo inmaculado perfuma su espada

Con mi sangre

Pieza capturada,

En toda muerte acaba un estado

Soy la torre del tarot de Marsella

Incendiándose, algunos saltan

para salvarse sin mirar hacia atrás

Reconstrucción

Sin destrucción

La fundación será aprovechada

Levantaremos algunas paredes nuevas y las pintaremos

Con colores más armónicos

Como esa hoja en blanco por la cual miras

En este momento y crees tener algo escrito.

No, no, no

No hay nada escrito aquí

Fuiste tú quien imaginó todo esto.

 

En verdad, ni leyendo o escribiendo estabas.

Esa hoja de papel tampoco existe.

Ni este libro.

Recuerda: hace poco estabas meditando

Y perdiste la noción de la realidad.

 

 

Sutra

 

O rei

Persegue meu cavalo no tabuleiro

Tento me esconder, mas ele me encurrala entre dois peões

Meu corpo imaculado perfuma sua espada com meu sangue

Peça capturada,

Em toda morte acaba um estado

Sou a torre do tarô de Marselha

Pegando fogo, alguns saltando para se salvar sem olhar para trás

Reconstrução

Sem destruição

A fundação será aproveitada

Levantaremos algumas paredes novas e as pintaremos com cores mais harmoniosas

Assim, ao modo dessa folha em branco para a qual você olha nesse momento

E acredita ter algo escrito.

Não, não, não

Não há nada escrito aqui.

Foi você quem imaginou tudo isso.

 

Na realidade, nem lendo ou escrevendo você estava.

Essa folha de papel tampouco existe.

Nem este livro.

Lembre-se: há alguns momentos atrás você estava meditando

E perdeu a noção da realidade.

 

 

 

Tercer ojo

 

Lo que está adentro está afuera

Lo que está afuera está adentro

 

Yo soy mis demonios

El mal sólo es el exagero del bien

Y el bien el exagero del mal

 

No hay ausencia,

Pues no soy más que todo el resto

Que es extremamente infinito

 

Soy lo infinito, pero mi pequeñez es tan latente

Y perceptible que soy el resto

Y ese resto infinito es lo que soy yo

 

Soy el escupitajo en el rostro de Buda

Y la mano de Buda que limpia su propio rostro.

 

 

Terceiro olho

 

O dentro está fora

O fora é o que está dentro

 

Os demônios são eu

Eu sou meus demônios

O mal nada é do que o exagero de bem

Bem por sua vez é o exagero de mal

 

Não há ausência,

Pois não sou mais do que todo o resto

Que é extremamente infinito

 

Sou o infinito, mas minha pequenez é tão latente

E perceptível que eu é quem sou o resto

E esse resto infinito é que sou eu

 

Sou a cusparada no rosto de Buda

E a mão de Buda que limpa o próprio rosto.

 

Traducción de Jesús Montoya

 

Renan Bolognin (Ribeirão Preto, Brasil). Es doctor en Estudios Literarios por la Universidade Estadual Paulista, magíster en Estudios de Literatura y licenciado en Letras Portugués y Español por la Universidade Federal de São Carlos. Da clases de Literaturas de Lengua Española en la Universidade Federal de São Carlos. Nimrod (Editora Ipêamarelo, 2022) es su primer libro de poemas.

 

 

[*] Estos poemas forman parte del libro Nimrod (Editora Ipêamarelo, 2022).